sexta-feira, dezembro 10, 2004

Um Dois Esquerdo Direito

Um, dois, esquerdo, direito.
Um, dois, esquerdo, direito.
Alto!
Preparar! Apontar! Fogo!

Um, dois, esquerdo, direito!
Com que direito?
Contra os canhões marchar
é hábito obsoleto.
Que orgulho retrógrado,
"os meus filhos feitos homens,
no campo de batalha,
a lutar pelo país que os viu nascer"

Dois soldados partem para a guerra.
Um morto, outro regressa,
mas qual mais fará chorar?
Um perdido no campo, estropiado,
uma perna desaparecida e outra por achar,
num braço uma espingarda,
o outro braço numa bala de canhão.
Todos falavam do seu sorriso,
e aqui jaz esse sorriso, transfigurado,
a cara cravada de fundos lenhos disformes.
Uma farda nova, bonita, cosida verde,
agora tingida de vermelho.
E, na Terra Distante,
uma mãe ele fez chorar!

O outro regressa, fato de gala,
condecorado, promovido,
pejado de estrelas e de galões.
Sangue nas botas e nas mãos, não no peito quente.
Ainda quente o cano da arma, do calor da vitória!
É feito heroi nacional
"pelo brilhante desempenho e singular empenho
no serviço da nação, pelo exemplar patriotismo
e distinta coragem, pela grande bravura na guerrilha,
pelo mui importante papel na derrota inimiga"!
E, na Terra Distante,
centenas de mães ele fez chorar!


10 Dezembro, 2004