quarta-feira, maio 19, 2004

Tique-Taque

É um tique-taque vazio
que escuto baixinho no meu peito...
É um relógio incerto
que conta o tempo que passa
e o que resta...
Quanto tempo faltará?

Quanto mais o tempo passa,
mais para mim o tempo tarda;
quanto menos horas faltam,
mais me duram as que ficam por passar,
mais elas ferem de saudade,
mais insistem em me magoar.

Tique-Taque... Tique-Taque...

O meu relógio parado
mal se ouve há muito tempo,
pede baixinho "tique-taque",
num capricho muito lento.
"Dá-me corda", quer dizer,
"E acalma-me a saudade"...

Tique-Taque... Tique-Taque...

Já é tarde, de tanto bater.
Já é tarde p'ra começar
o que nunca antes foi dito,
e assim, meu relógio aflito
mantém-me seca a garganta, e apertada...
Não me importo com as horas
e já a caneta está cansada...
Tanto risco e razura, tanta frase esquecida...
Tanta frase inacabada...

E ao, som do tique-taque, esqueço
e vou tragando as amarguras da vida
d'um copo de liminada.


30 Janeiro, 2004