quarta-feira, maio 19, 2004

O (Não) Olhar

Esmaga-me o tédio, a dor oprime-me,
Não sei escrever de céus, e mares e pinturas de sentido.
Toda a paisagem de sensações de que me recordo em mim dorme
Como num seguro e forçado estranho abrigo.

Corre-me uma lágrima, comovido
Por ver quem vê o que eu não sei olhar:
Campos verdes, douradas searas de trigo
Ou pores-do-sol violeta à beira mar.

Todo o sítio para que sou capaz de olhar
é para dentro do que ando sentindo
e para fora do que queria saber experimentar,
cansado que estou de procurar viver descansado.

Cansa-me já todo o tipo de existência, por ser alheia
e concentro-me nos versos, que me preparam para novos cansaços:
A consciência prende-nos as sensações, como estar enrolado numa teia,
Ou como se nos houvessem cortado os braços!